Não acredito no bloco do eu sozinho. Acredito na ajuda do outro, na interatividade em grupo. Tudo indica que esse assunto de autoajuda ganhou fôlego por volta de 1960, com a valorização das terapias alternativas, misticismo oriental, meditação e transcendência mental. As idéias fertilizaram no solo já bem adubado da era industrial onde se produzia milhares de mentes não criativas muito menos críticas do seu lugar no seu tempo e no seu espaço. O capitalismo trouxe a tiracolo, além do consumismo exacerbado, o individualismo. Casamento perfeito, indústria e consumo. Foi só então vender a idéia: você não é feliz porque não tem tal produto, para tê-lo é só querer e assim foi e continua sendo.
A solução mágica chegou às livrarias de maneira apocalíptica: qualquer coisa pode estar ao seu alcance se você pensar positivamente. É aí que mora o perigo - sua vida atual é fruto do seu pensamento - acaba desviando o senso crítico da realidade em que se vive. Para escapar desse engodo não se deve temer a hora de entender o mundo em que se vive. De buscar ajuda no outro quando é preciso, na comunidade, ir atrás dos direitos e deveres dos cidadãos e parar de pensar que se não deu certo a culpa foi só individual. Deve-se aprender que não se é fruto somente do próprio pensamento, mas de uma sociedade maior, liderada por poucos, colocando o povo à margem de seus objetivos. Somente a partir do momento que se tem noção do que temos nas mãos e do que nos falta é que podemos buscar a qualificação e motivação e daí, sim, focar o sucesso. Para isso é necessário, e muito, de conhecimento do mundo onde se vive e dos pensamentos dos dirigentes que o norteiam. Da mesma forma saber o que falta para alcançar o próximo degrau do sucesso como: mais estudo, cursos profissionalizantes, técnicos, comprometimento, trabalho, saúde e outros tantos fatores imprescindíveis a nossa escalada.
Pensamento e palavras de nada valem, sem atitude. E atitude exige objetivo e metas. Basta lembrar que já tem gente treinando, oito horas por dia, para próxima olimpíada, em 2016, buscando a superação de seus limites com muita obstinação e persistência. Com certeza, depois de muito suor, esses atletas terão palestras motivacionais, última etapa antes das medalhas.
Enquanto isso, os únicos realmente beneficiados com esse engodo da autoajuda, aliada a uma boa estratégia de marketing, são os escritores desses absurdos como Rhonda Byrne, autora de O Segredo, que chegou acumular uma fortuna de US$ 48,5 milhões em pouco mais de um ano e levando, de quebra, o título pela revista Times, em 2007, como um das pessoas mais influentes do mundo. Com certeza se perguntar a ela sobre seu sucesso dirá que veio à custa de muito trabalho e não de leituras rasas de livros de autoajuda. Taí o segredo.